"Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois quando nele se entra novamente, não se encontra as mesmas águas, e o próprio ser já se modificou. Assim, tudo é regido pela dialética, a tensão e o revezamento dos opostos. Portanto, o real é sempre fruto da mudança, ou seja, do combate entre os contrários."
Heráclito de Éfeso (540-470 AC)
Just Walking Around
What name do I have for you?
Certainly there is no name for you
In the sense that the stars have names
That somehow fit them. Just walking around,
An object of curiosity to some,
But you are too preoccupied
By the secret smudge in the back of your soul
To say much and wander around,
Smiling to yourself and others.
It gets to be kind of lonely
But at the same time off-putting.
Counterproductive, as you realize once again
That the longest way is the most efficient way,
The one that looped among islands, and
You always seemed to be traveling in a circle.
And now that the end is near
The segments of the trip swing open like an orange.
There is light in there and mystery and food.
Come see it.
Come not for me but it.
But if I am still there, grant that we may see each other.
John Ashbery, from A Wave (1984)
Andando por aí
Que nome tenho eu para ti?
Decerto não há nome para ti
No sentido em que as estrelas não têm nomes
Que de algum modo lhes servem. Andando por aí,
Um motivo de curiosidade para alguns,
Mas tu estás demasiado preocupado
Com a nódoa secreta do outro lado da tua alma
Para falar muito, e vagueias por aí,
Sorrindo para ti e para os outros.
Chega a ser um tanto solitário,
Mas ao mesmo tempo desanimador,
Contraproducente, quando percebes uma vez mais
Que o caminho mais longo é o mais eficaz,
Aquele que serpenteava por entre as ilhas, e
Parecia que andavas sempre em círculo.
E agora que o fim está perto
Os gomos da viagem abrem-se como uma laranja.
Lá dentro há luz, e mistério e sustento.
Anda ver. Vem, não por mim, mas por isso.
Mas se eu ainda lá estiver, concede que nos possamos encontrar.
John Ashbery
uma onda e outros poemas
tradução colectiva / joão barrento
poetas em mateus
quetzal editores
1992
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