quinta-feira, 8 de março de 2012
8 de Março - Dia Internacional da Mulher: a Dor
Neste dia Internacional da Mulher, faço uma homenagem a todas as mulheres que sofrem em silêncio, contando um caso que ouvi anteontem.
Estive na segunda e terça-feira numa ação de formação da empresa onde trabalho agora. Fiquei sentado ao almoço à frente da Paula (não é o nome verdadeiro), que também estava na formação embora trabalhe noutra delegação. A Paula tem 38 anos e está no segundo casamento. A conversa fluía e acabou por derivar para os divórcios por causa de um colega que estava sentado ao meu lado, que se separou há pouco tempo.
A páginas tantas a Paula, uma mulher bonita e com muita classe, culta, ex-diretora de recursos humanos, que até aí sempre manteve um ar altivo e distante, até um pouco arrogante, sai-se com esta:
"Eu também sou divorciada. Passados 12 anos de casamento peguei na menina e fui-me embora. Decidi e saí."
"Assim de repente?" perguntou uma colega
"Sim, mas ele deu-me muitas razões para isso, bateu-me durante todo o casamento, a partir dos 6 meses de casada. Depois de o deixar estive em tratamento num psicólogo e fui voluntária na APAV"
Fiquei estupefacto. Como é que esta mulher, culta, evoluída, aceitou ser agredida durante 12 anos?!
"E não me batia pouco, ficava com olhos negros, e era mais de uma vez por semana" acrescentou.
Não me contive:
"Como aguentou 12 anos?! Porque não saíu mais cedo?!" perguntei
"Porque gostava dele... e até era um cidadão exemplar... aquilo era uma doença... e eu se calhar também era culpada, sabia provocá-lo... e se calhar gostava de apanhar, depois com o psicólogo vim a perceber que eu deixava que ele me batesse porque isso tinha a ver com a minha relação com o meu pai" disse.
Saltou-me a tampa!
"Um cidadão exemplar? Provocá-lo?! Gostava de apanhar?! Desculpe mas quanto a mim ainda não ultrapassou a situação! Como é que um indivíduo que espanca a mulher regularmente é um cidadão exemplar?! O problema é que para si a cidadania acaba na porta de casa, dentro de quatro paredes aceita tudo, isso está errado. Se o visse a espancar a sua vizinha ainda o considerava um cidadão exemplar?!"
Depois começou com uma conversa estranha a dizer que não achava que ele tivesse culpa, porque era como uma doença... e que o pai dele também lhe batia... e depois perguntou-me se eu achava que um idoso pedófilo que tivesse sido vítima de abusos era culpado!
"Claro que sim!" disse eu "A menos que seja inimputável. De resto, o facto de ter sido vítima de abusos não o iliba da responsabilidade. Até porque há muitas pessoas que são vítimas de abusos e não é por isso que se tornam abusadores!
E se fossemos a pensar assim, ninguém era culpado pois todos somos produto das circunstâncias e do Destino: os genes que temos, o país onde nascemos, o meio familiar onde crescemos, os amigos, etc. Ninguém seria responsável pelos seus actos pois ninguém é responsável por estar vivo, começa logo por aí!"
Nota-se que a Paula ainda está muito traumatizada por 12 anos de uma relação doentia.
Imaginem se tivesse tido sido vítima de incesto quando pequena (será que não foi?) e/ou tivesse sido violada também. Se a cabeça dela já está assim baralhada, imaginem uma mulher que tenha sido agredida e violentada de várias formas, físicas e psicológicas!
Mas o que me espantou mesmo foi como é que uma mulher que perante os colegas se apresenta cheia de personalidade, com pose altiva e sobranceira, aceitou que uma situação assim se prolongasse por 12 anos...
O lado muito positivo é que teve a coragem de sair da relação e a humildade de assumir publicamente esse seu passado negro. Isso seguramente deu-lhe muita paz de espírito e permitiu-lhe "sintonizar-se" com a sua realidade, sem ter de mentir.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)


Sem comentários:
Enviar um comentário